“A bicicleta não me leva só até à meta — leva-me até a mim mesmo.”
Esta prova, para mim, não é mais uma. É especial. É reencontro com amigos, com paisagens que ficam gravadas, e com uma parte de mim que só acorda quando estou sobre duas rodas. Fui recebido com o calor humano que transforma qualquer evento. A organização — liderada com alma pelo meu amigo Henrique Resende — cuida de cada detalhe como poucos.
Instalámo-nos no XPT Águeda - Boutique Apartments, um espaço moderno, confortável e ideal para o descanso pré-prova. Fomos recebidos com simpatia e tranquilidade — e isso fez logo a diferença.
O sábado arrancou com tudo no lugar: ritmo certo, ambiente leve, trilhos perfeitos. Sentia que tudo estava em harmonia — a natureza, a história local, os single-tracks bem desenhados, os sorrisos cúmplices entre atletas. Águeda mostrava-se no seu melhor: paisagens de cortar a respiração, zonas técnicas exigentes, mas justas, e uma energia quase mágica no ar.
Mas uma Ultra maratona é sempre um teste — físico e mental. E foi aos 90 km que o meu corpo impôs um limite.
O frio instalou-se com força. Hipotermia. Tremores, fraqueza, o corpo a desligar. Tive de parar. Foi um golpe duro, porque emocionalmente eu estava inteiro. Mas compreendi ali que escutar o corpo é sinal de maturidade, não de fraqueza. Foram mais de duas horas até conseguir recuperar o mínimo de estabilidade. E nesse tempo, aprendi.
Demorei mais de duas horas a recompor-me. Foi nesse período que mais aprendi. Que entendi, com humildade, que o corpo é soberano. Escutá-lo é um ato de sabedoria, não de fraqueza.
Nesses momentos difíceis, gestos simples ganham um significado enorme. O Ricardo Saraiva, colega de trilhos, ofereceu-me o seu casaco. E seguimos juntos até ao final simbólico. Um ato simples, mas com um peso gigante. É disto que é feito o verdadeiro espírito de prova. E isso, mais do que qualquer medalha, fica para sempre.
À minha esposa — o meu pilar — deixo aqui o agradecimento mais profundo. Esteve ao meu lado antes, durante e depois. Foi apoio, abrigo e força. Sem ela, este capítulo seria outro.
De sábado para domingo, dormi como há muito não dormia. O cansaço acumulado, a exigência física e emocional do dia, e o conforto do XPT Águeda - Boutique Apartments deram-me um descanso profundo, daqueles que restauram não só o corpo, mas também o espírito.
No domingo, deixei Águeda com o corpo cansado, sim, mas com o espírito mais forte do que nunca.
E ainda houve tempo para o já tradicional passeio de descompressão, organizado com o mesmo cuidado e boa disposição. Um momento leve, descontraído, onde o pedal solto abre espaço ao convívio. E, claro, aquela sandes de leitão que já é patrimônio afetivo da prova. Porque no fim, é isto que fica: a partilha, o espírito de equipa, e a celebração depois da batalha.
Antes de fechar este capítulo, não posso deixar de deixar uma palavra aos que participaram nesta edição da Bairrada Ultra Marathon.
Os meus parabéns sinceros a todos os que pedalaram cada quilómetro, com coragem e entrega. Aos que, por uma ou outra forma, se aventuraram inspirados por uma partilha minha, uma conversa ou simples divulgação — o meu respeito profundo. Nada me honra mais do que ver alguém dar o seu passo em direção ao desconhecido, à superação, à liberdade que só o pedal nos dá.
Levo comigo cada palavra, gesto na memória e no coração. É por isto que vale a pena continuar a partilhar este caminho.
Eu estive lá, como "sempre"!
A aventura não se mede em quilômetros ou nos resultados classificativos — mede-se na intensidade com que vivemos cada etapa.
Não me sinto vencido. Nunca me senti. A bicicleta tem esse poder: mostra-nos que até nas pausas há conquistas. Foram dois dias e duas noites que me marcaram. Saio mais consciente, mais determinado — e com ainda mais amor ao que faço.
Voltarei...
E ainda falaremos da minha Scott Spark RC World Cup EVO, do Flight Attendant e do Wahoo ELEMNT ACE — mas isso fica para outro capítulo. Por agora, deixo apenas isto:
Se estiveres na dúvida…
Não olhes para trás. Não houve erro nesta aventura!
Aquele abraço de gratidão aos fotógrafos do evento, que me ajudam sempre a contar a minha história e a eternizar, colecionar alguns dos meus momentos.
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