Aceitei o desafio porque está na hora de fazer diferente.
Acredito na pessoa porque essa pessoa acredita em mim.
E no dia em que deixar de sentir isso, da mesma forma que entrei, é da mesma forma que saio.
Sou independente, mas acredito em projetos.
O que me move no concelho, nas eleições autárquicas, são as pessoas.
Por isso disse sim ao convite para ser Mandatário do Desporto pelo candidato Eduardo Oliveira à Câmara Municipal de Vila Nova de Famalicão — porque confio na Mudança.
Quero mostrar que o desporto não se constrói só com títulos.
Constrói-se com caráter, sacrifício e presença no terreno.
Não me movo por palcos nem por medalhas fáceis.
O que me move é aquilo que não se vê — o esforço diário, os que se levantam cedo sem apoio, os que jogam em campos sem condições, os que tomam banho frio no final do jogo, os que não têm sequer água para lavar o cansaço.
Fui um deles.
Cresci nesses campos.
Joguei em pavilhões onde chovia mais dentro do que fora.
Vi bolas mudarem de direção devido às pedras.
Treinei onde o equipamento era improvisado e o talento se sobrepunha à estrutura.
Foi aí que percebi: o desporto verdadeiro não é só competição — é resistência, é educação, é inclusão social.
Antes da bicicleta, também o futebol me deu identidade.
O futebol de 11, com todos os seus desafios e exigências, deu-me visibilidade no concelho — e é justo reconhecer isso.
Vivi essa paixão como atleta e como pessoa.
Também passei pelo futebol de 5, numa fase em que a bola ainda era o centro da minha vida.
E é por isso que conheço bem a realidade de quem treina tarde, de quem espera por uma oportunidade, de quem nunca teve acesso a condições mínimas, mas nunca deixou de aparecer.
Levo essa memória comigo, porque o desporto que quero defender tem de honrar todos os caminhos — desde o campo pelado até ao pavilhão improvisado.
Hoje sou mais conhecido pelo que faço em cima da bicicleta e por onde ela me leva.
Tenho a felicidade de pedalar com o melhor do mercado — mas nem sempre foi assim.
Não foi por títulos. Foi por trabalho — sério, diário, honesto.
Sem atalhos. Sem batotas.
E é com esse espírito que encaro esta missão.
A cultura desportiva em Portugal — e falo de Famalicão com conhecimento de causa — está pobre e é possível muito mais.
Mas isso não se transforma só com planos teóricos ou fotografias em eventos.
Transforma-se com visão, com escuta ativa, com coragem para tocar onde ninguém quer tocar.
Com inclusão verdadeira, indo ao fundo e à base do futuro — não aquela dos cartazes, mas a que entende as dificuldades reais de cada um.
O desporto não se limita à idade, nem ao tipo de corpo.
O desporto é para todos.
E dentro disso, há algo que me tem marcado muito: há crianças que não sabem sequer andar de bicicleta.
Outras têm medo, não têm onde aprender, não têm onde circular.
A bicicleta devia ser como aprender a andar. Um direito básico. Devia ser curricular.
Ultimamente, repito esta frase com convicção:
“Toda a criança devia sentir o vento no rosto.”
A bicicleta dá autonomia, autoestima, mobilidade e felicidade.
E isso — isso também é desporto.
Fui feliz no ténis de mesa.
Aprendi ali que concentração, respeito e estratégia podem caber numa mesa.
Foi uma escola de vida.
E continua a ser uma modalidade incrível para todas as idades, com enorme potencial educativo e competitivo, com custos reduzidos e acessível a qualquer freguesia.
E o desporto adaptado tem de deixar de ser uma nota de rodapé.
Tem de estar no centro da nossa política desportiva.
Pessoas com deficiência — física, intelectual ou sensorial — têm o mesmo direito à prática, ao acesso e à dignidade.
Não se trata de “incluir” por simpatia. Trata-se de entender que o desporto adaptado é desporto pleno.
É superação pura. É mérito. É talento. É inspiração.
Mas não são só os atletas que vivem dificuldades.
Também os pais e os adeptos que vão apoiar.
Muitas vezes assistem em pé, à chuva, sem casas de banho, sem acessos dignos.
E mesmo assim estão lá, com os olhos brilhantes, a ver os filhos ou os seus ídolos — a sonhar, a acreditar.
Eles também merecem respeito. Também fazem parte do desporto.
Sei que o sistema está enraizado há muito. Que há vícios, jogos de bastidores, egos a alimentar-se uns aos outros.
Mas eu não vim para agradar. Vim para ajudar a fazer o que acredito que é preciso fazer:
ouvir quem nunca foi ouvido, dar palco a quem sempre esteve no banco, criar oportunidades onde hoje há muros.
Vamos errar? Claro que sim.
Quem faz, falha. Mas quem faz com verdade e com os outros no coração, transforma.
Apontar problemas é fácil.
Trabalhar, construir, resolver — isso exige coragem.
E estou disponível para isso.
Para calçar os chinelos dos outros, sentir na pele, sem peneiras,
e trabalhar para que o desporto seja, finalmente, o que tem de ser:
Uma ferramenta de transformação.
Não é um brinquedo nas mãos de gente pequena de pensamentos, nem um palco para egos.
Obrigado, até já!
Filipe Brito